Já viu o meu canal no YouTube? Inscreva-se!

Vendinha do Tiozão do Vinil

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

A Manipulação Através da Música




A música exerce um grande poder sobre o nosso emocional. Ela está presente em vários momentos da vida e se torna particularmente marcante em momentos especiais, como o primeiro encontro; o tema da formatura; a música do casamento e em tantos outros momentos. Cria-se um vínculo indissociável entre acontecimento e a música, e cada vez que a ouvimos novamente, as mesmas emoções daquele determinado momento ressurgem imediatamente. A música é, portanto, um poderoso condutor de emoções.

Por possuir uma capacidade ímpar de tornar as emoções potencialmente mais marcantes, a música tem sido utilizada como meio de manipulação muito eficaz.

Nesse artigo trataremos da manipulação através da música, seja incitando o consumo de produtos ou vendendo uma imagem e até mesmo uma idéia e crença.

Estudos sobre o comportamento humano em relação ao som possibilitaram a criação de produtos culturais ou de mercado que gerassem no ser humano os efeitos desejados por quem os produziu. O cinema, desde seu início, aproveitou a música como grande reforço emocional em suas produções. E a publicidade fez o mesmo.

 A relação entre música, emoção e publicidade é muito estreita e sempre esteve presente na sociedade desde o momento em que houve a necessidade de se divulgar algo para um grande número de pessoas ao mesmo tempo.

A publicidade precisa seduzir, precisa encantar, criar um envolvimento indissolúvel entre a marca e o consumidor. E para isso ela lança mão, entre outros recursos, do uso da emoção. É através da emoção que a publicidade procura gerar lembrança ao consumidor, uma nova experiência vivida que ficou na memória. Da mesma forma que as campanhas publicitárias para venda de produtos, o cenário político também se utiliza com freqüência da música, produzindo jingles “clássicos”.

Ao se criar um jingle, existem preocupações mercadológicas sobre como a peça publicitária realizará sua tarefa de sedução e convencimento ao expectador, além de gerar lembrança da marca que a peça publicitária anuncia.

Aliando a música com o apelo visual, uma campanha consegue convencer o púbico que o produto anunciado possui qualidades sem precisar usar de grandes argumentos. Se o jingle produziu uma experiência agradável, sempre que o sujeito ouvi-lo, seu cérebro irá associar a experiência agradável com o produto, logo, o produto também agradará.

Mas, qual a estrutura ideal de um jingle? Como já vimos em artigos anteriores (ver Música simples X música complexa), o cérebro apresenta maior dificuldade em processar estruturas complexas, levando a pessoa a rejeitar, ou ter que ouvir muitas vezes para ocorrer a assimilação. A intenção de uma peça musical para o consumo, como são os jingles, deve ser a assimilação rápida. O sujeito deve ouvir e logo absorver, de maneira que fique rapidamente marcado em sua memória. Portanto, estruturas simples, não muito longas, são as preferidas. Dependendo do apelo emocional esperado, a escolha da harmonia e andamento também é fundamental.

Acordes maiores sugerem “abertura”, expansão, enquanto os menores remetem, em geral, ao recolhimento, melancolia. Porém, a escolha do andamento é fundamental. Estudos comprovam que, mais do que os acordes, o andamento parece apresentar associações universais.

Andamentos lentos remetem mais à sentimentos de  tristeza, enquanto os rápidos, à alegria. Ao unir adequadamente harmonias, andamento e imagens, temos o cenário para um jingle se tornar marcante, e a possibilidade dele “grudar” na nossa cabeça são muito grandes.

O uso da música para incitar e manipular não é “privilégio” da modernidade. Na antiga Grécia, a música era usada para encorajar os soldados, possuindo, inclusive, modos musicais próprios para isso. A capacidade que a música oferece de conduzir e alterar estados emocionais, possibilitava aos lideres manipular estados de ânimo dos soldados, transformando situações desanimadoras em momentos gloriosos. No esporte o uso da música na alteração era e ainda é bastante utilizada. A música incita, estimula e sugestiona.

Outro meio em que música é bastante utilizada é em ritos religiosos e sagrados. Quando se trata de crenças religiosas, devemos sempre levar em conta a fé de cada pessoa. Falar em manipulação pode soar para muitas pessoas ofensivo às suas crenças, mas, certamente, não podemos negar a grande influência da música nos cultos sagrados, cristãos ou não.

Em muitas cerimônias africanas, é o ritmo dos tambores que convoca feitiços e espíritos. Desse momento em diante, instala-se uma espécie de ambiente eufórico conduzindo a pessoa ao transe. Neste estado alterado, conduzido pela música, a pessoa considera-se tomada pelo espírito invocado.

Nos cultos cristãos, dificilmente vemos ausência de música, normalmente precedida de momentos “chave”, como a entrada do pregador, do sermão, orações e pedidos de oferta.  A música torna-se um vetor que sensibiliza o ouvinte, tornando-o mais suscetível aos apelos emocionais.

Novamente a escolha do ritmo, andamento e harmonias conduzem a estados emocionais alterados, de acordo com a intenção pretendida.

Por outro lado, penso que nem sempre o uso premeditado da música deve ser visto negativamente. A manipulação pode estar vinculada a idéia de “influência”, e tal pode ser positiva.

O uso para estimular, por exemplo, como os usados nos esportes e reabilitação física, é muito bem vindo. A potencia estimulante e prazerosa que a música provoca, age como um condutor saudável. Muitas pesquisas têm demonstrado que o uso da música em muitos casos diminui o uso de substâncias químicas, como medicamentos e estimulantes, já que a música provoca efeitos semelhantes.

Portanto, embora a imagem remetida pelo termo manipulação seja em geral negativa, é possível que em muitos casos seja utilizada de maneira benéfica. Ninguém quer ser manipulado, pois isso gera a sensação de não autonomia, não liberdade.  Porém, em geral, todos sofreram influências e manipulações por toda a vida. Seja dos pais, dos cônjuges, dos filhos, do patrão, da mídia. Somos modelados pela sociedade a fim de nos sentimos mais satisfeitos e principalmente, aceitos.

A vida em sociedade de certa maneira nos obriga a aceitar as manipulações impostas, porém, creio que uma pessoa dotada de discernimento e consciência, será mais dificilmente manipulada indiscriminadamente. Penso que a aceitação imediata e inconsciente daquilo que lhe é imposto molda uma sociedade frágil, sem poder crítico, movida pelos interesses dos formadores de opinião.

A música, por todas as suas características e variáveis, pode ser sim um instrumento moldador e formador de opiniões, devido o seu poder de marcar e gravar na memória de quem a escuta de maneira rápida e por um longo período de tempo. 

Por outro lado, toda essa potência pode sim ser usada e desfrutada por ouvintes conscientes que conseguem absorver dela influências boas e prazerosas.


Por Flávia Nogueira
Musicoterapeuta, musicista
e professora de música
Autora do blog Música & Saúde

sábado, 28 de outubro de 2017

O Sorriso da Mona Lisa teria sido causado pela música?





De acordo com Giorgio Vasari, historiador da arte e contemporâneo de Leonardo da Vinci (autor da Mona Lisa), era a música a causa do sorriso da moça.

Leonardo, diz Vasari, "contratava músicos para tocar e cantar, e fazia zombarias constantes para afastar a melancolia que os pintores normalmente davam a seus retratos".

E qual era exatamente o tipo de música que afastava a melancolia? Mark Levy, diretor do Concordia, grupo de música antiga, acha que tem as respostas em seu disco, Music for Mona Lisa, lançado pela Metronome. O recital mergulha nas fontes contemporâneas sobre a música composta no mundo de Leonardo, reunindo canções francesas, italianas, arranjos de melodias folclóricas e música para dança. A descrição de Vasari da importância da música no estúdio do artista - "a música pode ser chamada de irmã da pintura" - é repetida no próprio Tratado de Pintura, de Leonardo.

"O pintor senta-se diante de sua obra, bem à vontade, e bem vestido, e movimenta um pincel bem leve, mergulhado em uma cor delicada... sua casa é limpa, e cheia de belos quadros; e ele é frequentemente acompanhado por músicas e leituras... que são ouvidas com o maior dos prazeres".

Como a Mona Lisa é quase exatamente da mesma época da invenção da impressão da música no norte da Itália, Mark Levy teve a sorte de encontrar várias fontes. Por volta de 1503, quando a Mona Lisa foi pintada, Leonardo passou duas décadas  a serviço do governante milanês Ludovico Sforza, onde um aspecto importante de seu emprego era arrumar entretenimentos musicais de todos os gêneros - incluindo banquetes, e bailes de carnaval e de máscaras.

"Não dá para saber exatamente quais os seus gostos em música", diz Levy, "mas nosso segundo objetivo foi refletir, em nossa escolha de peças, as preocupações de Leonardo enquanto artista e pensador criativo. Demos lugar de honra à música artística de qualidade genuína, mas com concessão estranha à fascinação de Leonardo para com o grotesco, e o que podemos chamar de sua universalidade de perspectiva; acima de tudo, procuramos música que teria satisfeito seu conceito de beleza atingida por meio de proporções harmoniosas".

Assim como Mona Lisa é uma pintura revolucionária, a música também estava conhecendo a sua própria renascença. "A maior parte da música escrita antes de 1500 pode ser descrita, na falta de outro termo, como medieval", ele diz. "A maioria das composições seculares anteriores a esta data tendem a ser monótonas e angular. Mona Lisa não é uma pintura monótona ou angular - não há planos em sua face, que parece ter sido espontaneamente moldada a partir de curvas e formas naturais. E, assim como há um novo senso de liberdade na pintura, a música segue a mesma tendência". 

Levy adorou os aplausos que se seguiram aos concertos com a música do disco, e gostaria que os compradores em potencial do CD passassem por um pequeno teste. "Escute o CD por 15 minutos; olhe-se então no espelho, ou peça a um amigo para descrever sua expressão. Os cantos de sua boca ficaram sutilmente mais suaves? Um toque de misteriosa feminilidade prorrompeu em suas formas?" Música que fez a Mona Lisa sorrir pode fazer bem a você também!

Extraído da Revista Classic CD nº 23 (setembro de 1998)
Autor não creditado






terça-feira, 24 de outubro de 2017

A Influência da Música no Organismo




A música sempre foi uma constante na vida do ho­mem e, por isso mesmo, ela é tão antiga quanto a hu­manidade. Ela era utilizada em rituais, para diversão e até para curar doenças. Os primeiros relatos da música combatendo enfermidades foram encontrados em papiros médicos egípcios, milênios de anos antes de Cristo, os quais atribuíram ao encantamento da música uma influência na fertilidade da mulher. A música pode atuar sobre o ritmo cardíaco, a pressão sanguínea, a respiração cardíaca e inclusive sobre as glândulas endócrinas, liberando adrenalina e outros hormônios.

É também comprovado que a música influencia a condução elétrica do corpo e o equilíbrio do sistema nervoso, com isso provoca reações e deixa os nervos à flor da pele, “eriçados”. Enquanto há música que produz um equilíbrio na mente e no organismo todo, também há a música que acaba desestruturando totalmente as reações de nosso organismo, alterando os padrões considerados normais.

Os sons graves nas fórmulas rítmicas repetitivas, em batidas marcantes, com o volume acima de certo número de decibéis, com a atmosfera sonora criada pelos instrumentos e baterias usados na música popular, afetam diretamente a glândula Pituitária, ou Hipófise, localizada bem no meio da cabeça; excitam-na e fazem que seus hormônios influenciem todo o metabolismo do corpo, bem como as glândulas sexuais; enfim, afetam a química corporal por completo, fazendo o organismo se sentir num clima totalmente alterado. .(ARAUJO, 1998, p. 28).

O cérebro humano também pode ser alterado dependendo das exposições à musica, podendo ser esculpido por ela - Veja O  CÉREBRO DO MÚSICO , já postado aqui no blog.  

Na maioria das pessoas, o lado direito do cérebro favorece a análise da harmonia e do contorno melódico e o esquerdo mostra especial talento para processar o ritmo. Os músicos profissionais costumam ser tão analíticos que ocorre neles uma dominância do cérebro esquerdo.

A música é em geral percebida através da parte do cérebro que recebe os estímulos das emoções, sensações e sentimentos, sem antes ser submetida aos centros cerebrais envolvidos com a razão e a inteligência. Por estes motivos, acaba afetando a pessoa sem que ela se dê por conta, assim a resposta à música ocorre mesmo quando o ouvinte não está dando uma atenção consciente a ela.

Quando o som chega ao cérebro, ele irá atuar no sistema límbico (sistema primitivo do cérebro). Em uma situação de stress, medo ou tristeza, é enviada uma mensagem para o hipotálamo, que ordena a que liberação de hormô­nios específicos, gerando ao fim, a liberação de uma substância anestésica chamada cortisol.

Segundo estudos e pesquisas, a utilização da música em terapia (musicoterapia), é utilizada com sucesso no controle da dor crônica.

A liberação do cortisol citado acima faz com que a audição musical promova um efeito analgésico.

Em pesquisa realizada com pacientes com câncer no Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo, constatou-se que o uso da música gera efeitos fisiológicos semelhantes à morfina.

“A música tem o mesmo efeito que a morfina, pare­ce que tirou a dor de dentro de mim”.
Acho que ao invés de morfina, vou pedir uma dose de música clássica, o que você acha?”
No mesmo estudo, relatou-se que além da redução da dor, ocorreu maior equilíbrio nos valo­res dos parâmetros vitais, principalmente na frequência respiratória e frequência cardíaca.



Por Flávia Nogueira
Musicoterapeuta, musicista
e professora de música
Autora do blog Música & Saúde





 Bibliografia

SACKS, Oliver. A grande orquestra do cérebro. Revista VEJA. São Paulo. n. 2027, 2007.
ARAÚJO, Dário Pires. Efeitos e usos da música. Belo Horizonte: Ed. Atrium, 1998.
RODRIGUES Keila Lages. A influência da música no corpo humano. Acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação Física da ULBRA/Guaíba
FRANCO, Mariana e RODRIGUES, Andrea Bezerra. A música no alívio da dor em pacientes oncológicos. Trabalho realizado no Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.

domingo, 15 de outubro de 2017

Música Simples X Música Complexa




É difícil conceber um mundo sem música. Ela está intimamente enraizada em nossa experiência íntima, carregando memórias e emoções.

Ao nascer, já se sabe que bebês são capazes de distinguir entre escalas musicais, preferem harmonias consonantes em detrimento às dissonâncias e são aptos a reconhecer canções com facilidade.

Apesar do pouco repertório de informações, o bebê já demonstra um preparo básico para poder decifrar o mundo musical. Portanto, todos nascem com uma habilidade básica para música, não sendo necessário muito mais do que ouvir canções entoadas pela mãe, no rádio, na televisão para nos tornarmos musicais. Vemos isso no nosso país, dizem que o povo brasileiro é musical por natureza, e isso lá tem seu fundo de verdade...

Pensemos no caso desse bebê ser exposto a experiências musicais mais profundas, como audição de músicas com estruturas mais complexas, dificilmente tocadas nas rádios, (salvo poucas exceções) tais como peças eruditas, jazz, bossa nova, ou qualquer construção que ofereça ao cérebro desafios de processamento. A quase ausência de repertório “difícil” nas rádios se deve especialmente pelo fato de que a exposição de estruturas complexas não é aceito com facilidade por qualquer ouvido. A dificuldade inicial do cérebro no processamento dessas músicas gera irritação na maioria das pessoas.  Sabe-se que é um desafio muito maior processar uma construção de inúmeras harmonias, ritmos que se alteram constantemente, grande variedade de instrumentos tocando em uma mesma peça, do que processar melodias simples, harmonias de 3 acordes, no máximo 4 instrumentos diferentes e ritmo que praticamente não se altera. Não julgo aqui a qualidade estética da música, não quero de forma alguma afirmar que uma música é melhor se for mais “difícil”, e que músicas simples são ruins. Apenas discorro sobre os efeitos que esta diferença de estruturas musicais pode causar no desempenho cerebral.

O Efeito Mozart

Mozart
Recentemente, falou-se muito do “Efeito Mozart”. Afirmava-se que após a audição de peças desse compositor, o desempenho cognitivo se tornava melhor, ou seja, as pessoas ficavam “mais inteligentes” após ouvir trechos de Mozart. Considerado prodígio, o compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) começou a compor aos cinco anos de idade, e até hoje suas obras são reconhecidas como geniais. Na época, ganhou reconhecimento da crítica especializada, embora muitos considerassem suas obras excessivamente complexas.

A ideia de que a audição de peças clássicas por bebês o tornavam mais inteligentes, levou as gravadoras a produzirem uma enxurrada de Cds com músicas do repertório clássico especialmente para bebês.

Porém, até hoje, nenhuma pesquisa comprovou que a eficácia do Efeito Mozart seja duradoura. Muitas músicas podem sim liberar neurotransmissores capazes de fazer o cérebro funcionar com maior rapidez. Pesquisas comprovam que ouvir músicas que nos agradam, sejam elas quais forem, despertam efeitos semelhantes aos encontrados no Efeito Mozart. Assim foram encontrados os Efeitos Nirvana, Efeito Bach, Efeito Iron Maiden, e tantos mais.

Atualmente, estudos sugerem que os efeitos que a audição desperta em uma pessoa provém de pelo menos duas fontes:

  • A audição de músicas complexas: responsáveis pelo acionamento de um grande número de estruturas neurais, já que o desafio apresentado requer um grande número de áreas cerebrais a fim de realizar o processamento. Essa afirmação pode explicar o efeito ocorrido no cérebro ao ouvir as peças de Mozart, consideradas difíceis e complexas;
  • A audição de qualquer peça que seja significante: a experiência musical significativa produz marcas profundas no córtex cerebral. Portanto, independente da estrutura e grau de complexidade, as músicas carregam experiências emocionais marcantes, sejam elas positivas ou não, de qualquer maneira, uma música marcante é capaz de acionar grandes áreas cerebrais, atuando como um dispositivo e gerando efeitos diversos.

Segundo pesquisas, a audição é capaz de integrar grandes áreas cerebrais, entre elas, aquelas responsáveis pela cognição e emoção. Portanto, a música integra simultaneamente tanto processamentos emocionais como racionais, por outro lado, os efeitos no cérebro causados pela audição passiva são geralmente passageiros, a audição musical, mesmo prolongada, não é capaz de alterar a estrutura neural.

Podemos considerar que as pesquisas sobre os efeitos da música sobre o cérebro humano ainda estão no início, embora muitas descobertas importantes já tenham sido realizadas. O que se pode comprovar até agora, é que a audição de peças complexas, aliadas às inúmeras significações acionadas pela escuta, representa um enorme desafio para o cérebro, e que, apesar de não tornar seres mais “inteligentes”, melhora a capacidade de concentração, atenção, percepção e principalmente, colabora muito na construção de um ser mais sensível e aberto para desafios e novidades, muito além das imposições “enlatadas” oferecidas pela mídia.


Por Flávia Nogueira

Musicoterapeuta, musicista
e professora de música
Autora do blog Música & Saúde

Para ver o que já foi postado, clique

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Morning Dance - Spyro Gyra

Acervo pessoal
O Spyro Gyra é um grupo de Fusion que surgiu nos Estados Unidos em meados da década de 70, que atingiu sucesso comercial e gravou uma grande quantidade de discos. Seu som é influenciado pelo Smooth Jazz, R&B, Funk e Pop.

Os amigos Jay Beckenstein e Jeremy Wall se reencontraram após terminarem o curso universitário na cidade de origem de ambos: Buffalo. Como os dois trilharam o caminho da música, resolveram se juntar para jams na noite da cidade. Os temas giravam em torno do R&B, Pop e Jazz. Incorporaram outros músicos, acrescentaram uma sonoridade esotérica e formaram o Spyro Gyra. O nome foi ideia de Beckenstein que havia feito faculdade de biologia - spirogyro é um tipo de alga verde (lembra da música do Jorge Ben? "É um bichinho bonito, verdinho, que dá na água...").

Conforme aconteciam as apresentações, a banda foi crescendo até chamar a atenção de uma pequena gravadora que resolveu apostar no grupo. Sendo assim, em 1977 lançaram o primeiro álbum que, no ano seguinte ficaria entre os Top 40 dos álbuns de Jazz.

Vários integrantes passaram pelo grupo, músicos de Funk, Disco, Jazz, Pop, R&B, etc., e levaram consigo toda essa variedade sonora transformando o Spyro Gyra num grupo original de influências diversas.

Apesar de já terem conquistado o respeito no meio musical com o lançamento do primeiro disco, faltava o sucesso, e ele veio com uma forte divulgação da gravadora (agora a forte MCA) e com o lançamento do álbum "Morning Dance". Assim conquistaram os EUA e a Europa.


Morning Dance (1979)



AUDIÇÃO COMENTADA

Meus destaques em vermelho 

01 - Morning Dance
Violão, percussão, xilofone. Um tema latino capitaneado pela bela melodia do sax alto.

02 - Jubilee
Guitarra e baixo cheios de groove. Metais em profusão e sax alto a toda. Solos de sintetizador, sax alto, guitarra e baixo. Uma grande e prazerosa viagem!

03 - Rasul
Um delicado tema solado em sax soprano e depois pelo tenor. Intervenções de uma inusitada trompa.

04 - Song For Lorraine
Um fusion típico à lá Weather Report. Ritmo quebrado e complexo - walking bass!

05 - Starburst
Teclado com timbre "strings". Guitarra sincopada e sax alto esmerilhando. Os teclados assumem vários timbres no decorrer da música. No meio, temos uma cadenciada para depois retomar com tudo na percussão!

06 - Heliopolis
Ritmo mais convencional, de pegada mais leve. Longo solo de teclado. Trabalho econômico na percussão. Boa, mas inferior às demais. 
 
07 - It Doesn't Metter
Pela primeira vez vozes no arranjo. Destaque para a guitarra. Belo encadeamento de acordes da harmonia.

08 - Little Linda
A percussão já anuncia que a coisa vai pegar fogo. O sax mostra um agradável tema. O teclado com timbre de piano também marca boa presença abrindo para o solo do xilofone. Quase um sambinha.

09 - End Of Romanticism
Os metais abrem com peso e o teclado sola na sequência em andamento acelerado. Após nova intervenção dos metais, o andamento desacelera e a harmonia destaca primeiro a trompa e depois a guitarra que apresenta um belo solo. 


Texto: Rodrigo Nogueira
Fonte histórica: Wikipedia