Todo mundo que coleciona tem a prática de garimpar, ou seja, correr atrás dos preciosos itens para incrementar a coleção. Nos tempos atuais, muitos colecionadores têm optado por garimpar on line, aproveitando assim as facilidades da Internet sem precisar abandonar o conforto do lar. Eu geralmente não faço dessa forma. Prefiro o tradicional "bater perna" para encontrar meus itens. Há vantagens e desvantagens nessa prática e a principal vantagem que vejo é que, na minha opinião, esse modo é muito mais prazeroso. Ok, você pode discordar de mim, sem problemas! O fato é que ao buscar pessoalmente nossos itens, encontramos e lidamos cara-a-cara com pessoas dos mais diversos tipos, e recentemente eu me deparei com uma verdadeira figura! Essa é a história que narro a seguir.
Foto da Internet |
Encontrei um antiquário nas minhas andanças e parei para perguntar se havia discos para vender. Infelizmente não tinha, então conversei com o dono do lugar pra saber se ele conhecia algum lugar ou alguém que teria discos para vender. Ele pensou um pouco e se lembrou de um conhecido que teria uns 5 mil discos na coleção e que estava interessado em vender. Recebi as coordenadas do local de trabalho da pessoa e nos despedimos.
Só pude dar sequência com a minha investigação no dia seguinte, quando me dirigi ao local de trabalho da pessoa - para preservar a identidade, chamarei-a de Bill. Era sábado, véspera de dia dos pais e Bill não se encontrava no local, entretanto, o número do telefone dele estava disponível na porta do local. Anotei e voltei para casa.
Após algumas tentativas desisti de continuar a ligar, pois Bill não atendia. Tentei novamente no domingo, dia dos pais, e ele atendeu. Me apresentei, disse que havia pegado o contato dele com um amigo em comum e que se ele realmente tivesse discos para vender, eu estaria interessado em dar uma olhada. Ele me perguntou quando eu poderia ir até a casa dele e eu respondi que estava com tempo no domingo mesmo. Bill concordou, mas me avisou que iria trabalhar no domingo e que eu deveria encontrá-lo após o expediente. Nos vemos após as 14 horas? - perguntei eu crente que ele trabalharia apenas até o horário do almoço. Que nada, hoje vou até as 22 h! - respondeu ele. Fiquei sem graça de, em pleno dia dos pais e após inúmeras horas de trabalho, fazer o cara ainda me atender em sua casa; pedi para deixarmos para outro dia, que ele deveria descansar. Que nada! Bill queria que eu fosse lá, mesmo nesse horário. Combinamos para as 22:20 e pontualmente eu estava em sua porta.
Bill era um rapaz que aparentava estar próximo dos 30 anos. Tinha uma barba bastante espessa e falava calmamente e em tom baixo. Entrei pela sua garagem e imediatamente notei uma estante repleta de LPs em meio a inúmeras caixas espalhadas, peças de carro, o próprio carro, pneus velhos e diversos entulhos.
Foto da Internet (não era tão bagunçada assim - risos) |
Aí estão os itens para vender? Posso dar um olhada? - perguntei. Ele assentiu com a cabeça. No caminho até a estante fui me deparando com uma série de bizarrices: bonecas velhas, utensílios domésticos antigos e retorcidos, itens indígenas, incensos gastos e ossos! Ignorei tudo aquilo e me concentrei nos discos.
O primeiro que puxei era uma edição aparentemente nova do Powerslave do Iron Maiden, o segundo era outro Iron Maiden, o terceiro, o quarto - o cara tinha tudo do Iron! Na sequência vieram diversos dos Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin, Deep Purple, Creedence, Pink Floyd e muitos outros - tudo discografias completas e em estado espetacular!
_ Só não vendo os do Floyd e do Raulzito! - disse Bill. O cara tinha tudo e alguns até dobrados. O amigo do antiquário dissera que ele tinha 5 mil discos, um claro exagero, Bill tinha no máximo uns quinhentos naquela estante torta da garagem, mas só filé se você for apreciador do Rock 'N' Roll de primeira categoria.
Eu queria levar tudo, mas sabia que não teria condições de pegar tudo de uma vez - longe disso! Ainda mais se Bill tiver uma boa noção dos valores cobrados atualmente por itens daqueles - então o jeito foi elevar o critério de escolha e separar apenas aqueles itens que eu queria muito ter.
Ao finalizar as buscas em todas as estantes, reparei que havia esquecido de checar a mais alta. Havia alguns discos sob uma caixa. Testei o peso dela e percebi que apesar de grande ela não era pesada, então resolvi baixá-la. A caixa estava entreaberta e ao ver seu conteúdo tomei um baita susto, era o crânio de um animal - um cavalo provavelmente. Bill percebeu que titubeei com sua caixa nas mãos e pela primeira e única vez ele elevou seu tom de voz: CUIDADO!!
Para disfarçar meu espanto perguntei se ele se interessava por História, Arqueologia ou quem sabe Biologia... Só assim pra justificar ter em casa uma peça exótica dessas, embora a minha suspeita maior seja que o negócio dele era provavelmente bruxaria! Ele respondeu algo baixinho que eu não consegui entender.
Ainda tentando quebrar o gelo, elogiei a coleção dele e perguntei qual era o seu toca-discos. Para meu espanto, ele disse que não tinha um. Decerto havia vendido - pensei e depois perguntei. Não, eu não tenho porque não gosto - disse Bill gentilmente - prefiro ouvir CDs ou MP3. Ah, então deve ser um daqueles colecionadores que gostam de ter uma estante cheia e bonita para mostrar para as visitas! - pensei, mas logo descartei a ideia, afinal, a estante dele era feia, torta e estava alojada em sua garagem e não sala de estar ou outro lugar mais nobre. Não, o motivo da coleção dele deve ser outro.
A conversa com Bill seguiu agradável e ele começou a falar alegremente dos seus garimpos, das pessoas que lhe ensinaram a colecionar e dos lugares incríveis onde ele adquiria seus discos. Bom, ele deve achar lindos os seus itens, as capas, encartes... deve ser um fetichista que gosta de pegar um disco, tirar da capa, olhar os detalhes e depois guardar de volta na estante. Acho isso tudo meio estranho, mas já ouvi falar de pessoas assim, talvez seja esse o tipo do Bill.
Peguei uma edição nacional gatefold de 1967 do clássico Sgt. Peppers dos Beatles e retirei do sleeve o LP. Chequei a conservação do disco - estava impecável e aparentemente sem uso - e ao retorná-lo ao sleeve fiquei com receio de rasgar o papelão e então pedi para Bill guardar para mim. Ele deve adorar - pensei - afinal é disso o que os colecionadores fetichistas mais gostam. Bill pôs o disco de lado e confessou para a minha surpresa que odeia ficar tirando LP de dentro da capa e devolvendo depois...
Restou então negociar os itens escolhidos. Eu me considero um negociante razoavelmente experiente, mas Bill se mostrou um cara duro na queda! Pensei em vencê-lo pelo cansaço, afinal já passava de meia-noite e ele vinha de um dia extenuante de trabalho. Que nada, por ele a negociação poderia durar até a alvorada! Cada argumento dito por mim ou por ele era seguido de alguma história que ele contava. No final fui eu mesmo que me cansei e dei um ponto final na negociação. Não paguei o preço que ele queria, mas paguei bem mais do que eu esperava. Apesar disso, paguei bem menos do que andam cobrando por aí nesses itens.
Fui para casa feliz da vida com meus 3 novos Yes, 1 Marvin Gaye, 2 Led Zeppelin e 1 Beatle, porém até agora não sei o que motiva Bill a colecionar ou pra que servem as ossadas!
Intrigante a história hein professor ,curti
ResponderExcluirPreciso voltar lá no bruxo pra garimpar mais umas coisinhas!
ResponderExcluirOLoooko cara kkkk curti a historia... Eu tenho uma cabeça de vaca aqui em casa, talvez ele so achou da hora ou sla né rs aproveitando que vai voltar lah vc talvez pergunte né pow HaHaHa
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