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Foto da Internet |
Em meados do ano de 1998 assistia eu a fita VHS (DVD nessa época era só para os muito ricos) do filme 'As Duas Faces de um Crime', estrelado por Richard Gere e que apresentou para o mundo o ótimo ator Edward Norton. No meio do filme há uma cena em que o advogado (Gere) vai visitar o covil da máfia e lá encontra o pessoal jogando sinuca ao som de uma música que me chamou a atenção de cara, o interessante é que também chamou a atenção do advogado que menciona a beleza da música para o chefe dos bandidos que, ao final da conversa, na despedida, presenteia o advogado com o CD que continha a música que eles estavam ouvindo (baita jabá, rsrs). Ao final do filme, enquanto subiam os créditos, acompanhei com atenção para ver o nome da dona daquela voz excepcional e o nome da belíssima canção, até que eles surgiram: 'Canção do Mar', intérprete Dulce Pontes!
Encurtando a história, não consegui nenhuma informação sobre ela (internet era algo praticamente inacessível na época e o Google nem devia existir ainda) até que descobri tratar-se de uma cantora portuguesa sem trabalhos lançados no Brasil. Sendo assim, tive que importar um bendito disco dela pagando os olhos-da-cara. Tive que pegar o CD que havia disponível, sem nem ao menos saber quais eram as faixas que ele continha. Comprei e detalhe: não tinha a tal 'Canção do Mar'!
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Acervo Pessoal |
Um pouco indignado, comecei a ouvir o disco e já fui pego logo na primeira música: 'Alma Guerreira', que representa o fogo neste trabalho "elemental" da diva, é de uma beleza ímpar. Fiquei impressionado com o brilho e a delicadeza quase divinos da voz de Dulce. O arranjo todo feito para instrumentos acústicos e orquestrais. O clímax é de arrepiar! Precedido de um suspense gerado pela orquestra, seguido de uma crescente em vibratos da soprano que explodem com todo seu poder! Sua voz vai literalmente às alturas e com um vigor que preenche todo o recinto. Espetacular! Após ouvir umas dez vezes é que passei à faixa seguinte.
Fado-Mãe é uma homenagem delicada ao estilo musical típico português, cantado à moda lusitana, rica em melismas de influência moura; o acompanhamento é feito com instrumentos étnicos e a interpretação é soberba. Uma obra de arte.
Tirioni é uma espécie de "música de trabalho", algo equivalente ao canto dos colhedores de algodão dos EUA ou das lavadoras de roupas dos rios brasileiros. Repare como é inusitada a métrica em comparação com a melodia. O arranjo é entremeado de silêncios, simples e belo.
Modinha das Saias é uma curiosa e curta obra à quatro vozes que conta com a participação da cantora Maria João. A aparente simplicidade oculta a complexidade extrema das vozes. É alegre, assim como Pátio dos Amores.
Garça Perdida é um singelo poema emotivo. Mostra como Dulce Pontes pode certamente figurar entre as melhores cantoras do mundo. A faixa consegue se destacar no álbum, mesmo estando entre as outras músicas de evidente teor artístico.
O Que For Há de Ser, Ai Solidom e Porto de Máguas trazem uma sofrida melancolia típica do fado e as interpretações são pouco ortodoxas, mas riquíssimas.
O álbum é fechado com a extraordinária Ondeia. A música praticamente não tem letra, são vocalizes e variações da palavra que dá nome a faixa. Dulce é excepcional, o que ela faz nessa música é um assombro! Sem dúvida, uma filha legítima de Apolo ou de Santa Cecília. É impossível passar incólume por essa faixa, a carga emocional é gigantesca.
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arte interna |
No encarte do CD vem todas as letras (só assim para entender o que ela fala, rsss).
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Encarte |
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Selo |
Claro que depois desse primeiro disco passei a pesquisar cada vez mais a cantora e conheço todo o seu repertório.
Por fim, segue a tal 'Canção do Mar' que é boa, mas que está longe de expressar toda a riqueza do trabalho de Dulce. No máximo é um belo cartão de visitas.
Por fim, segue a tal 'Canção do Mar' que é boa, mas que está longe de expressar toda a riqueza do trabalho de Dulce. No máximo é um belo cartão de visitas.
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